segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Proposta de Categorização das Casas-Museu - O Ponto da Situação

Dr.ª Elsa Rodrigues
Casa-Museu João de Deus

No projecto de categorização das Casas-Museu, inicialmente uma Casa-Museu é uma casa que foi musealizada, uma casa com a mobília original. Vou dar exemplos que provam que nem sempre se passa assim. No entanto, quando os objectos se mantêm no seu local original, ajudam o visitante a ter um contacto mais próximo com a pessoa que lá viveu ou até com a própria interpretação dos objectos, porque eles não estão desgarrados do seu sítio de origem.

Nem todas as casas são iguais, principalmente, devido à sua função. Todas as casas foram residência, mas não tiveram a mesma função. As categorias não servem para
definir estilos arquitectónicos. Servem sim, para reflectir sobre quem lá viveu e então surgiram as sete categorias: Casas de Personalidade, Casas de Coleccionadores, Casas de Beleza, Casas de Eventos Históricos, Casas de Sociedade Local, Casas Ancestrais, Casas de Poder, Casas Clericais e Casas Modestas. Depois surgem duas sub-categorias ou duas categorias à parte que são as Casas para Museus e Salas de Época.

Na primeira categoria, as Casas de Personalidade são casas onde viveu alguém que se notabilizou na sociedade, geralmente, no mundo das artes, ciências ou das letras; pode ter sido um músico, um pintor, um artista ou até um político, um militar.
Normalmente a pessoa associa essa personalidade a um herói nacional.

Mas nem todas as casas, mesmo as Casas de Personalidade, são iguais.

Há casas que mantêm a mobília da época, como é o caso da Casa-Museu João de Deus, em Lisboa. Esta casa mantém a mobília quase intacta de quando João de Deus viveu nela. É obvio que a casa teve que ter alguns arranjos. Normalmente nas Casas-Museu isso acontece para os visitantes poderem circular melhor na casa e até para a própria preservação dos objectos. Na Casa-Museu João de Deus, e também acontece em muitas outras casas-museus, apesar da mobília ser da época, às vezes há melhoramentos técnicos, como por exemplo a introdução da electricidade. As pessoas entram na casa e muitas delas questionam-se: como é que no tempo de João de Deus já havia electricidade? A casa continuou a ser habitada após a morte do poeta e é por isso que os objectos chegaram até hoje, porque senão seriam dispersos por herdeiros; o que não aconteceu porque a viúva de João de Deus continuou a viver na casa, depois os filhos, e consideramos que a electricidade faz parte da história da própria casa.

Depois há outras casas que não mantêm a mobília da época, como por exemplo, a Casa-Museu João de Deus, em São Bartolomeu de Messines, que foi a casa onde ele nasceu. A Câmara Municipal de Silves queria homenagear João de Deus e queria recriar esta casa que estava vazia. João de Deus passou lá só a infância e a adolescência. Os familiares não tiveram preocupação em manter a mobília, nem sabiam que ele se iria notabilizar na sociedade e então os objectos foram vendidos. Quando se pensou em criar a Casa-Museu, o que se fez foi falar com a população e pedir para que a ela se envolvesse e oferecesse à Casa-Museu objectos da época de João de Deus. Mas estes objectos não pertenceram a João de Deus. Só duas das salas: a sala de estar e o quarto é que têm mobília e as outras divisões têm livros, referências bibliográficas e fotografias. Portanto, esta casa acaba por funcionar mais como um centro de interpretação do que como Casa-Museu por não ter os objectos que lhe pertenceram.

O mesmo se põe com a Casa de Camilo, que não tem os objectos que lhe pertenceram porque a casa sofreu um incêndio. No entanto, esses objectos servem de veículo para as pessoas perceberem melhor o ambiente em que ele viveu. Não são objectos dele, mas são objectos contemporâneos. Se ele não tivesse estes, teria outros parecidos, teria outros do mesmo estilo e acho que os visitantes conseguem perceber o ambiente em que Camilo viveu.

De seguida, a Casa Mozart, em Vienna, é exactamente o oposto dos casos anteriores. Esta casa também não tinha mobília porque os herdeiros de Mozart, tal como os João de Deus, nunca pensaram que ele viesse a ser um enorme sucesso, que viesse a ser uma figura de culto, muito menos a nível mundial e então desfizeram-se da mobília. Mozart só viveu três anos nesta casa e a mobília não lhe pertencia, porque Mozart vivia sempre em casas alugadas. No entanto, quando se pensou em criar a Casa-Museu, as pessoas tinham uma lista com o espólio que pertencia a esta casa. Inicialmente ainda pensaram em encontrar mobília e mobilar a casa, mas depois pensaram que não. Vai-se mostrar a casa vazia.

A grande questão que se pôs foi: esta casa será uma Casa-Museu? A solução que as pessoas que cuidam desta casa arranjaram foi a de pôr uma maquete numa das salas em que mostra toda a casa e depois em cada divisão existiam bonequinhos pequenos que mostravam quais seriam as pessoas que habitariam essas divisões específicas, por exemplo, no quarto estaria só um bonequinho que representava Mozart, na sala-de-estar estaria Mozart, a esposa, o filho e o cão, noutra divisão estaria Mozart com os amigos e assim as pessoas conseguem pelo menos perceber quem seriam as pessoas que habitavam cada uma dessas divisões. Tem também uma exposição com as obras que ele compôs nestes três anos em que habitou nesta casa.

Depois há outro caso, também de Casa de Personalidade, que é a Casa Ferreira de Castro. Este estúdio estava inicialmente em Lisboa, na sua casa de Lisboa, e quando a Casa Ferreira de Castro inaugurou em Sintra deslocaram-se todos os objectos de sua casa para Sintra. A casa de Sintra pertencia-lhe, ele comprou a casa, mas nunca chegou a habitar nela, portanto, ele nunca trabalhou neste estúdio em Sintra. Será também uma Casa-Museu? Todos os objectos que lá estão pertenceram-lhe e ele tinha uma grande afinidade com Sintra, tanto que quis ser enterrado na própria serra.

Há, por exemplo, a Casa de Eça de Queiroz, em Tormes. Os objectos que estão nessa casa vieram todos da sua casa de Paris. Esses objectos ajudam a estar próximo da pessoa, ajudam a entender o seu quotidiano, mesmo que não estejam no seu local de origem.

A segunda categoria, a Casa de Coleccionadores, pode ser uma casa onde viveu um coleccionador, onde ele recolheu, onde foi guardando a sua colecção e também pode ser uma casa onde o coleccionador não viveu, mas onde actualmente é exposta a sua colecção.

No primeiro caso, é o caso da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira onde se podem ver os objectos exactamente onde ela os tinha, onde ela os ia coleccionando.

No segundo caso, é o caso da Casa-Museu Guerra Junqueiro, no Porto, em que os herdeiros, depois da morte de Guerra Junqueiro, em 1940, doaram esta casa (onde Guerra Junqueiro só passou alguns verões nela, ele não chegou a habitar permanentemente nesta casa), à Câmara Municipal e também todo o seu espólio, que ele tinha comprado em viagens. Guerra Junqueiro era um coleccionador e anotava tudo, onde comprava as suas peças e por quanto tinha comprado.

Na terceira categoria, as Casas-Museu de Beleza, a arquitectura é mais importante do que o seu recheio, a sua colecção. A própria casa é que é o objecto de arte.
Mas aqui também se põe um problema, por exemplo, no caso da Casa-Museu de Carlos Relvas, na Golegã, ele também vivia lá e também era o seu estúdio, tinha os seus objectos de trabalho, o seu ateliê e o seu laboratório fotográfico. Já aqui vemos que há um problema quanto à casa, que se pode colocar em duas categorias, mas tem que se pôr numa ou noutra, temos que privilegiar uma delas.

Outro exemplo é o Palazzo del Principe, em Génova, em que privilegia a arquitectura renascentista.

E, por fim, o exemplo da Quinta de Vale de Flores, que não faz parte da lista do DEMHIST, que nem sequer foi estudado ao ponto de estar em qualquer lista.
Mas estes encontros também servem para divulgar algum espólio e para as pessoas se aperceberem dele pelo menos quando viajam; se as pessoas estiverem alerta podem preservar este género de património. Se as pessoas não conhecerem estas categorias não vão valorizar, não vão dar importância a esta casa.

Esta casa é uma casa de arquitectura doméstica quinhentista. Em 2000, caiu toda a parte da loggia e está praticamente em ruína. Pertence à Câmara Municipal de Loures. A Câmara comprou o imóvel em 2000, mas ainda não fez nada da casa porque ainda não decidiu o que há-de fazer dela. Primeiro tem que pensar como a vai recuperar. Há um grupo de trabalho que pensa que a loggia tem que ser construída e outros pensem que não. Esta casa também já perdeu parte da sua visibilidade, porque esta casa era uma quinta, isto é, era uma casa agrícola, onde os proprietários só passavam o verão e tinha grandes terrenos, porém parte desses terrenos já foram ocupados. A Câmara Municipal foi expropriando terrenos e ali foram construídas casas e estradas, assim já não se tem a vista de conjunto, não se consegue perceber a grandiosidade que a casa tinha com os seus terrenos agrícolas. A casa só tinha função com os seus terrenos agrícolas.

Outra categoria é Casas-Museu de Eventos Históricos, por exemplo, o Palácio Eidsvoll, em Oslo, onde foi assinado o Tratado da Independência dos Noruegueses da Suécia. As pessoas ainda celebram este dia e continuam a associá-lo a este local histórico.

Na Casa-Museu de Eventos Históricos não é a arquitectura em si que é importante, não quer dizer que a colecção seja importante, mas aconteceu algo de histórico.
No caso de Lisboa, existe o Palácio da Independência, que não faz parte das casas do DEMHIST, nem sequer é casa histórica. Apesar de ser da família Almada, até hoje é conhecida como o Palácio da Independência porque o movimento da independência (os 40 conjurados) reuniram nesta casa em 1640 e ainda hoje, todos os anos, se faz um jantar, para relembrar esse momento e o espírito do que é ser português, mais do que o espírito da independência.

A próxima categoria é a de Casa de Sociedade Local. São casas que foram construídas, exactamente, pela sociedade local, em que o que se privilegia é uma facilidade sócio económica.

A Casa da Liga Hanseática, em Bergen, por exemplo, em que um grupo de mercadores criou autênticos bairros onde eles viviam com os aprendizes. Esta casa mostra um quarto, onde os aprendizes dormiam, o escritório do mercador que geria esta casa, o refeitório e outros edifícios muito próximos onde eles se reuniam, um refeitório maior do que este e a cozinha. São casas onde viveu uma sociedade, onde viveram várias pessoas que podiam pertencer à mesma família. As pessoas entravam para esta liga porque queriam trabalhar para ter benefícios económicos.

Depois, as Casas Ancestrais, outra categoria, e que, na definição do DEMHIST, são casas que podem ser pequenos palácios e casas de campo, de grande dimensão, não como um palácio real, mas com uma certa dimensão, diferente das Casas Modestas.

Estas Casas Ancestrais têm que ter sido habitadas por várias gerações, diferente das Casas de Personalidade onde viveu uma pessoa e ela é conhecida por essa pessoa que lá habitou. As Casas Ancestrais geralmente foram habitadas por oito ou nove gerações da família, sempre da mesma família, que normalmente também mandaram construir a casa.

Por exemplo, um Palácio na Bélgica, o Kasteel Gaasbeek, tem a mobília que pertencia à família, tem parques e jardins. O último proprietário da casa deixou em testamento que queria que esta casa fosse Casa-Museu, ou seja aberta ao público, e que fosse só aberta sazonalmente. Ele já tinha um entendimento que a casa não podia estar desgarrada da envolvência. Achava que os jardins e os parques faziam parte da casa, faziam parte integrante do património. Considerava que a casa durante o inverno devia descansar, entrar em repouso, em hibernação, tal como a natureza, e que os visitantes só deveriam ver a casa quando toda a flora estivesse no seu auge, para quem desfrutasse da casa também pudesse passear nos parques e vê-lo no seu melhor.
Outro exemplo de Casa Ancestral é o Palácio d’Ursel que fica exactamente em Ursel (estes palácios têm o nome da terra onde foram construídos). Esta casa, quando o governo Belga quis recuperá-la, praticamente só tinha a estrutura, dentro estava tudo em ruínas e a casa estava vazia.

Aqui pôs-se um problema: se valeria a pena ou não abrir esta casa ao público porque ela não tinha nada para mostrar (não tinha mobília); se se havia de comprar ou não mobília; que mobília é que se devia comprar. Chegaram a considerar que esta casa valia pela arquitectura em si e quem a visitasse conseguia imaginar o poder económico que esta família tinha (esta casa tem 52 quartos). É uma casa que pode hospedar muitos visitantes, tem uma zona para todos os criados, tem cozinhas que são muito afastadas da sala de jantar e das zonas privadas da casa. Resolveram abrir a casa. Fazem frequentemente exposições e também explicam o que está a ser feito.

Chegaram à conclusão que vão mobilar. Como são 52 quartos, tiveram que ter prioridades, que foi o piso térreo. No piso térreo, há uma sala que neste momento só tem papel de parede que veio da China e eles fazem desta sala vazia com papel de parede um motivo para se visitar a casa. Mostram também fotografias como era esta casa quando estava mobilada. Ainda há um descendente e numa das salas pode-se ver um vídeo em que ele relata como era a vivência nesta casa. Apesar de não ter os objectos, os visitantes podem imaginar o usufruto que as pessoas faziam dela.

Um caso português, que está na lista do DEMHIST, é o Palácio Fronteira que está nesta categoria porque é ancestral e foi habitado por muitas gerações. É um caso em que a família ainda habita parte da casa e só se visita outras divisões que não são habitadas hoje em dia pela família.

Outra Casa Ancestral, por exemplo nos Estados Unidos, também está na lista do DEMHIST, é uma casa diferente das anteriores: Wyck, uma Casa Colonial do século XVIII. A própria definição do DEMHIST diz que são pequenos palácios, mas obviamente que nos Estados Unidos não se encontram grandes palácios habitados ao longo de gerações porque tem uma história diferente da europeia.

As categorias podiam-se manter as mesmas, não quer dizer que todos os países tenham as mesmas categorias, que têm Casas-Museu para todas as categorias, mas a própria definição do que pertence a cada categoria devia ter algumas ligeiras alterações, podia ser mais abrangente.

Outra categoria, as Casas de Poder que são fáceis de identificar, são casas que estão associadas ao governo do país, normalmente na Europa são casas onde viveram os reis, casas associadas ao próprio poder, por exemplo, o Palácio Real de Varsóvia ou o Palácio Nacional da Ajuda.

E por último, para ser um exemplo diferente, que não pertence ao DEMHIST (para atrair novos membros para o próprio DEMHIST tem que se alargar os horizontes), uma Casa de Poder, Gyeonggbokgung, onde viveu um Imperador da Coreia. Não é um palácio só, são vários: num era a sala de recepção aos visitantes, outro a sala do trono, tem quartos e uma arquitectura bastante diferente do que estamos habituados a ver na Europa.

A categoria de Casas Clericais inclui abadias, mosteiros ou outras construções eclesiásticas, que estão abertas ao público. Normalmente, são casas que já não são habitadas por frades, mas que estão abertas ao público. Mas há outra situação, podem continuar a ser habitadas e estarem abertas ao público.

No primeiro caso, o Mosteiro Klosterneuburg, na Áustria tem três factos: os monges ainda vivem neste mosteiro (tem uma parte de habitação muito parecia com o Escorial que o Imperador Carlos VI quis imitar e por isso tem dependências de habitação imperial), tem uma adega porque ainda hoje estes monges têm vinhas e produzem o seu vinho (as pessoas podem vê-los a trabalhar) e tem a grande Abadia, a igreja e o altar, que é o que atrai mais visitantes.

Depois temos o caso de um Mosteiro da Cartuxa, o Mosteiro Ittinger, com monges de clausura que faziam voto de silêncio. Já não está habitado e os visitantes vêem as celas dos frades, que comiam nas suas celas e que só ao domingo almoçavam em conjunto no refeitório. Esta Abadia não tem muitas habitações abertas ao público, mas tem uma biblioteca bastante relevante.

O Palácio Nacional de Mafra tem uma zona conventual, vê-se a parte da enfermaria e as celas individuais.

No caso do Convento di San Marco em Florença, os monges já não vivem aqui. Pode-se visitar as celas e algumas dependências como o refeitório pequeno, o refeitório grande e a sala do capítulo. As dependências foram aproveitadas para expor pintura feita pelos próprios monges. Acaba por ser um museu (divisões com obras de arte expostas).

Outro exemplo, um Mosteiro Mahagandayon na Birmânia, aberto ao público, onde as pessoas podem ver a vida monástica e podem assistir a uma celebração religiosa. Pode-se ver o refeitório, os monges a comerem, os espaços onde eles vivem. Todas as regras deste centro estão escritas nos quadros e nas pedras.

As Casas Modestas são casas vernaculares que demonstram um estilo de vida ou um estilo de construção de casas que já não se usa.

Algumas Casas Modestas da Noruega são casas que, apesar de serem modestas, não são tão modestas quanto isso, como por exemplo casas de grandes agricultores, como por exemplo a de Roynevarden, mas como não são palácios têm que estar incluídas aqui.

Outra Casa Modesta também na Noruega, é Kolbeinstveit, situada no topo de uma colina de difícil acesso. Esta casa não era tão rica quanto as casas de grandes agricultores, tinha só meia dúzia de cabras e meia dúzia de vacas. Esta casa até à um ano atrás estava em ruínas, teve que ser reconstruída.

Relativamente ao tema da reconstrução, há quem pense que o original tem mais valor do que o que é reconstruído, mas mais vale ter uma casa reconstruída do que perdê-la totalmente.

A equipa que recupera estas casas acha que ao reconstruí-las está a transmitir conhecimento e a técnica. Eles aprendem os ofícios antigos. Mas este trabalho não é feito em vão, não é só reconstruir. Todo o processo é documentado. Existe sempre um caderno onde tudo é fotografado, onde se fazem desenhos, onde se diz exactamente o que é que se fez em cada etapa, ou seja, documentam o que foi recuperado.

A nível de Casas Modestas, outro exemplo, é uma casa minúscula, onde viviam as crianças da casa anterior, não tem mobília nenhuma. Não tem nem nunca teve. A parte de baixo servia de curral (onde viviam três ou quatro cabras) e as crianças viviam por cima. Quando as pessoas a visitam têm a percepção de como é que seria viver neste sítio, imaginam como seria dormir com o cheiro das cabras ali por baixo.

Nas Casas Modestas, esta equipa não quer que o visitante tenha uma experiência só de visitar e apreciar o espaço, quer que vivenciem este espaço. As pessoas que visitam a casa podem ir lanchar, almoçar ou jantar. Além de ter animação, estas casas só estão abertas sazonalmente, só no verão, porque trabalham com voluntários, envolvem toda a comunidade, pessoas que vivem nas aldeias perto, que trajam de maneira tradicional e que recebem os visitantes.

Mas este convívio, esta vivência, traz o problema da conservação dos próprios espaços porque as pessoas podem pegar numa peça, as crianças transportam objectos de um lado para o outro nas salas e as pessoas são servidas nos objectos museológicos. Portanto, se eles se estragam, se se danificam, perdem-se.

Eles não estão preocupados com a questão, porque quase todas as casas estavam vazias e não têm mobília original. Fizeram um estudo sobre a família que lá viveu, vão aos arquivos e conseguem saber que tipo de mobília tinham e compram mobília muito idêntica (não é original desta casa, podia ser de outra casa idêntica).

Outro exemplo, Hospedaria dos Emigrantes em São Paulo, que não está na lista do DEMHIST, albergava os emigrantes quando chegavam ao Brasil, onde permaneciam quatro a cinco dias antes de irem para as fazendas. Esta casa não tinha mobília porque as pessoas traziam só a sua bagagem de mão, dormiam em camaratas e comiam em refeitórios (havia a ala dos homens e das mulheres). É uma casa que não tinha mobília e continua a não ter. Foi aberta ao público à muito pouco tempo, em 2005, e há uma parte expositiva de objectos que os descendentes de emigrantes guardaram.

Quanto às Casas para Museus, são casas que foram construídas para albergar uma colecção, como por exemplo a Casa dos Patudos em Alpiarça. No entanto esta casa podia estar em várias categorias: podia ser uma Casa de Personalidade, podia ser uma Casa de Coleccionador, uma Casa de Beleza, porque tem arquitectura única. Não existe outra casa igual a esta.

E depois há as Salas de Época, que são casas nas quais cada divisão tem vários estilos diferentes. O visitante pode, no fundo, passear pela História. Por exemplo, o Museu do Folclore em Olso que é um museu ao ar livre, em que a maior parte das casas foi trazida do campo para a cidade e foi feita uma aldeia com casas de várias regiões. Também tem uma parte que recria a cidade, onde mostra os vários tipos de habitação, a casa dos anos 20, anos 50, anos 60.

Em Portugal, a Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio recria vários ambientes em que ela viveu.

As perguntas que se colocam para o debate e para a reflexão da tarde são as seguintes:

  • Será que as categorias estão ajustadas às especificidades das Casas-Museu portuguesas?
  • Será necessário criar novas categorias? (Deste encontro podem nascer novas categorias que podem ser propostas numa reunião Internacional do DEMHIST)
  • Será que as casas podem pertencer a várias categorias?
Na lista do DEMHIST temos 15 casas, mas há bastantes mais em Portugal. O que se pretende é exactamente partir dessa lista e que haja vários contributos para a alargar, vê-la e classificá-la. Numa pesquisa pessoal, cheguei a 70 casas. Se serão todas Casas-Museu ou não é para um outro debate.

Dr.ª Elsa Rodrigues
Casa-Museu João de Deus