segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

2 – Museus Memoriais

Moderadora: Dr.ª Elsa Rodrigues

Estiveram presentes Cármen Jiménez Sanz (técnica de apoio de Museus e Colecções em Madrid), Ana Mercedes Stoffel (Casa-Museu João Soares), Maria Isabel Ferreira Alves (Museu das Migrações e das Comunidades, em Fafe), Ivone Manuel Fonseca Pereira e Maria Luísa da Costa Aguiar dos Museus Municipais de Vila do Conde.
O debate teve o objectivo de criar uma actividade prática para a categorização das Casas‑Museu e catalogá-las em relação à função que estas tiveram no passado. No caso do grupo de trabalho dos Museus Memoriais seria enquadrar as casas que não são consideradas Casas-Museu de Personalidade nem Casas-Museu de Coleccionadores.
Segundo a moderadora Dr.ª Elsa Rodrigues os Museus Memoriais podem ser Casas de Beleza, Casas de Eventos Históricos, Casas de Sociedade Local (foram construídas por um grupo social e não por um indivíduo), Casas Ancestrais (permanecem na família durante várias gerações e o espólio deve ser mantido desde a primeira geração), Casas Clericais e Casas Modestas (um exemplo dado por Ana Mercedes Stoffel foi a Casa da Madalena, em Lisboa, que foi transformada numa casa como esta teria sido nos anos 20, 30).
Contudo a Dr.ª Elsa Rodrigues referiu que, provavelmente, as Casas de Beleza seriam as únicas que não se enquadravam numa função no passado, uma vez que estas privilegiam a arquitectura. No entanto, Maria Isabel Alves discordou, referindo que, muitas vezes, a própria Beleza era a sua função. Esta era propositada como forma de afirmação, por exemplo, para mostrar riqueza e ostentação. Neste caso, a Casa tem de ser única, tem de ser uma raridade.
No decorrer do debate surgiu a dúvida daquilo que é necessário para classificar uma casa como Casa-Museu e quais são os requisitos necessários para assim classificá-las.
No caso da Casa de José Régio pertencente aos Museus Municipais de Vila Conde não se percebe porque é que não é considerada uma Casa-Museu. A Câmara quando adquiriu a Casa apenas interveio no edifício a nível de restauro, mas a nível de disposição está exactamente como quando a adquiriu. A Dr.ª Elsa Rodrigues acha que, por isso mesmo, deveria de ser classificada como uma Casa-Museu. O facto de a Casa não ter sido alterada ainda a torna mais rica, pois as pessoas podem ver os objectos exactamente onde eles estavam e conseguem perceber como José Régio se movimentava naquele espaço. Além disso, todos os objectos estão inventariados, a Casa tem plano de segurança, de conservação, serviço educativo, por isso, deveria ser considerada uma Casa-Museu.
No entanto, esta situação é muito subjectiva porque a própria DEMHIST ainda não chegou a uma definição definitiva de Casa-Museu, o que torna muito difícil também categorizá-las.
Ana Mercedes Stoffel deu o exemplo da Casa-Museu João Soares que perdeu a função doméstica, mas que mantém a memória. Refere que, hoje em dia, é um lugar sobretudo para desfrutar sendo a colecção que possui apenas os prémios que João Soares recebeu durante a sua vida pública. Os espaços da Casa, por exemplo, não correspondem à função que teriam quando João Soares lá habitava: foram adaptados a salas de serviço educativo e salas de exposição temporárias.
Por isso, Ana Mercedes Stoffel acredita que tem de se abrir a abrangência da palavra Casa‑Museu. Não se deve limitar a ser uma Casa onde existem objectos musealizados, uma memória, uma forma de vida ou uma actividade de alguém importante. Tem de ser um Museu e cumprir as regras do ICOM, mas a partir daí como se categoriza? No caso da Casa-Museu João Soares como se há-de catalogar? Ana Mercedes Stoffel caracteriza-a numa primeira categoria como sendo de Memória e numa segunda categoria de Personalidade.
Ana Mercedes Stoffel acha que a ficha de identificação deveria ter itens que ajudassem as próprias organizações a definir e a especificar a classificação das Casas-Museu. A própria ficha devia, à partida, definir as Casas como aquelas que albergam uma memória, uma forma de vida ou uma actividade importante para a sociedade e que têm as tarefas de conservar, investigar, divulgar e promover a cultura. Tudo o que resta tem de estar especificado numa ficha que ajudem as Casas‑Museu a cumprir o seu papel com os recursos que têm.
Por outro lado, deveriam criar-se redes ou ligações entre as várias Casas-Museu, pois, muitas vezes, há partes comuns de trabalho entre elas. Por isso, seria importante pôr as pessoas a falar umas com as outras e tentar encontrar esses pontos em comum que, provavelmente, ajudariam na própria categorização.
Ivone Pereira e Maria Luísa Aguiar deram o exemplo da Casa de José Régio, em Vila do Conde, que roda as exposições, ou seja, faz trocas com a Casa-Museu José Régio, em Portalegre.
Referiu-se também que se deveria revitalizar o projecto de criar a Associação das Casas-Museu Portuguesas e, por exemplo, mandar por e-mail uma ficha que permitisse a cada Casa-Museu identificar-se, tornando-se assim mais fácil ver quais as Casas que têm características em comum para poderem trabalhar em conjunto. Quando toda essa informação estivesse reunida colocava-se no blogue.
Na reunião referiu-se, também, que talvez devesse estar presente nas Jornadas de Trabalho alguém da Rede Portuguesa dos Museus para ajudar a resolver a situação, se bem que nem mesmo esta entidade chega a todos os Museus que existem em Portugal, pois nem todos os museus estão na rede e nem todos cumprem os requisitos. Por isso, era importante existir, por exemplo, um sítio na Internet onde várias equipas, rotativamente, pudessem fazer o levantamento do que existe e, com tempo, ir acrescentando mais pormenores.
Há muita dificuldade na categorização e, por vezes, surgem situações em que se pergunta se determinada Casa está devidamente enquadrada. Por exemplo, a Casa do Pescador, que pertencia a um pescador e que foi reabilitada por um grupo de pessoas, só abre por marcação prévia e são os familiares que têm a chave. Esta Casa está classificada como Casa de Sociedade Local, mas a Dr.ª Elsa Rodrigues pergunta-se se não deveria ser considerada Casa Modesta.
Outro exemplo dado pela Dr.ª Elsa Rodrigues é o facto de existirem alguns museus que deveriam ser considerados Casas Modestas, mas que fazem parte de Museus Regionais e Etnográficos, o que faz com que, na opinião da moderadora, alguns não estejam devidamente enquadrados. Os participantes acreditam que, neste caso, o que é importante é que a Casa-Museu mantenha sempre a sua função original, ou seja, tem de haver uma Casa e tem de estar associada a uma vivência, só quando isso não é possível é que deveria ser caracterizada como um Museu Etnográfico.

Conclusões:


- Criar um grupo de trabalho para se trabalhar conjuntamente;
- Atribuir funções e trabalhar a nível regional para fazer levantamentos do que existe em Portugal;
- Enquadrar a Casa Modesta num Museu Etnográfico;
- É importante definir o que é Casa-Museu.

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